Blocos de Carnaval e escolas de samba de BH cobram mais segurança para as mulheres durante a folia
Representantes das agremiações avaliam que campanhas contra o assédio sexual são insuficientes
Representantes de blocos de Carnaval e escolas de samba de Belo Horizonte querem mais segurança para as mulheres durante a folia. Durante reunião da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta terça-feira (3), disseram considerar insuficientes as iniciativas feitas até este ano para evitar, por exemplo, casos de assédio.
“Toda mulher que anda na rua no Carnaval já sofreu algum tipo de assédio. Por mais feminista que ela seja, na hora ela fica paralisada, sem reação. BH é uma cidade careta. Por isso, muita gente fica incomodada com uma mulher feliz, de maiô, com a bunda de fora andando na rua”, afirmou a Marina Fonseca, representante de um dos maiores blocos da capital, o "Então Brilha!"
Ela destacou que a agremiação consegue garantir "alguma segurança" dentro das cordas, mas lamentou que o mesmo não ocorre do lado de fora.
Representando o bloco "A Roda", Mariana Castro considerou insuficientes as campanhas educativas contra o assédio sexual. Para Gisele Duarte Maia, do bloco "Bruta Flor", é preciso investir em ações de formação em direitos humanos para a Polícia Militar e treinar mulheres para acolher as vítimas de violência.
Já a vereadora eleita em Belo Horizonte Juhlia Santos defendeu a elaboração de um protocolo para prevenir a violência contra as mulheres e a população LGBTQIAPN+. Ela considera fundamental o retorno dos plantões da Delegacia da Mulher durante o feriado de Carnaval e a garantia de não revitimização das agredidas no momento de registro da denúncia na polícia.
Sem diálogo com o poder público
Os principais atores do Carnaval de Belo Horizonte também reclamaram de outras questões envolvendo a organização da festa popular. A queixa mais comum foi de falta de diálogo com o poder público, especialmente a Belotur, responsável pelo planejamento e pela divulgação dos desfiles que reúnem milhares de foliões nas ruas da cidade.
O presidente da Associação dos Ambulantes, Adejailson Severo de Oliveira Andrade, reclamou do tratamento dispensado à categoria no último Carnaval. Os interessados em conseguir uma credencial para vender cerveja e refrigerante nas ruas tiveram que esperar dias e noites em uma fila, para concluir o seu cadastramento.
“Precisamos de mais diálogo (com a Belotur), não só durante o Carnaval. Estamos falando de pais e mães de família que não têm outra fonte de renda, a não ser nesses grandes eventos. Nossa classe foi humilhada pelos órgãos públicos da cidade”, afirmou.
Já o presidente da Liga das Escolas de Samba, Márcio Eustáquio Antunes de Souza, disse que a Belotur se exime de maiores responsabilidades no Carnaval por, segundo ele, considerar que os desfiles são uma manifestação espontânea da cultura popular.
Belotur garante abertura para o diálogo
A diretora de eventos da Belotur, Daniele Araujo da Silva Rossi, ressaltou que a empresa reconhece a importância dos atores que fazem a festa acontecer nas ruas de Belo Horizonte. “O Carnaval não é feito pela Belotur; é feito por blocos de rua, blocos caricatos, escolas de samba, vendedores ambulantes e catadores de materiais recicláveis”, argumentou.
A representante da Belotur garantiu que tem reuniões agendadas com todos esses atores e reafirmou a abertura para o diálogo prévio para garantir apoio para a realização dos desfiles. Ela ainda informou que algumas escolas de samba já começaram a receber o dinheiro da subvenção para a próxima edição da festa. E adiantou que o protocolo "Quebre o Silêncio" vai aprimorar o acolhimento de vítimas de assédio sexual.